Meu destino estava lá, mas, eu não conseguia ver. Claro, pegando o caminho errado nunca se chega onde quer. Disseram “Pegue a rodovia Castelo Branco e entre no quilometro 78. Depois faça a interligação e vá até a Raposo Tavares, então é só seguir até o quilometro 100 e já chegou”. Não consigo nem seguir instruções decentemente, desde pequeno me perco nos lugares mais absurdos. Certa vez, quando estudava no Makenzie, logo no primeiro dia de aula, consegui perder-me no horário do intervalo e não pude retornar à sala. Alguns professores lembraram disso até o fim do ano, o que me dificultou bastante a vida. É uma vergonha.
Depois de muitos “Whata fuck!! Onde é que eu fui parar??”, consegui encontrar meu hotel (eu disse HOTEL, com “h”, assim como o maldito “heremita” que me encheram tanto o saco pra arrumar. Tá certo, tudo por um bom português) que ficava em frente a um Carrefour, perto da rodovia.
Chegando, fui resolver os problemas de instalação. Nome assinado e malas pra dentro. Começava minha empolgante jornada rumo ao desconhecido.
Com dez minutos de viagem já queria voltar. A TV do quarto pegava mal, o hotel era vazio e o andar inteiro fedia cigarro apagado. É, não podia deixar-me abalar pelas dificuldades e aridez do terreno, tinha que continuar, firme, forte e com um puta sono. E que sono!! Só conseguia pensar em dormir, mas, antes precisava tomar banho e escovar os dentes. Exatamente tudo o que não tinha no quarto. O que fazer? Foi aí que lembrei do Carrefour! Bendito seja!!
Guardei as malas, peguei a carteira, coloquei um chinelo e fui comprar sabonete e shampoo. No caminho fui me animando para ver a cidade. O vento estava favorecendo um bom clima para a noite levemente quente.
Com os acessórios comprados, voltei ao hotel e fui tomar meu delicioso banho. Delicioso não sei pra quem. Ao abrir o chuveiro, caiu uma água tão gelada que pensei que estavam de brincadeira comigo, só podia ser. E não tinha nada para mudar a temperatura da água. Pensei “Acho que ela esquenta com o tempo”. Sim, uns 20 minutos. Ótimo, adoro passar frio.
Banho tomado, faltava só escovar os dentes. Sabia que faltava alguma coisa. Volto a colocar o chinelo e o rumo do mercado de novo.
Dentes escovados, banho tomado. Agora sim! Jantei no restaurante do hotel e fui passear um pouco. Desci a avenida vendo as pessoas, os bares, os carros, tentando descobrir onde ia parar. Vi o céu da noite, que a muito não via. Essa caminhada sem compromisso me fez bem. Resolvi, então, parar num bar e pedir uma cerveja.
Beleza, estava eu lá, solitário, o homem da estrada pedindo minha cerveja gelada sozinho, como nos filmes de cowboy. Primeiro gole e penso “Da hora!”. Olho as pessoas rindo e divertindo-se. Os casais se beijando. Tomo o segundo gole e penso “Que merda! Que que eu to fazendo aqui sozinho??”. É, camaradas, ficar sozinho é bem estranho. Mais do que eu imaginava. Bem mais.
Pra não dizer que a noite foi totalmente perdida, vi um atropelamento. Uma moto atropelou um rapaz que subia a avenida a cavalo bem pelo meio da rua. O que dá na cabeça de um cara pra subir uma avenida movimentada a cavalo, com um galho na mão e virar de repente? No meio da rua!! Claro que seria atropelado! Logo que virou, percebi o que estava por acontecer. O barulho do impacto foi alto. O rapaz e a moça que estavam na moto voaram para o chão enquanto o safado do peão erguia-se para fugir em seu cavalo branco. Que cena bonita. A policia, como sempre, chegou atrasada. Adoro gente ágil, tanto o rapaz e seu cavalo branco quanto a policia.
Pedi mais uma cerveja. Queria ver se aquela sensação passava, mas, percebi que vinha pra ficar. Voltei ao hotel vazio e para meu quarto-cinzeiro. Dormir longe de tudo e de todos também é bem estranho. Quem sabe no dia seguinte não me sinto melhor?
Continua...
"Como vovó já dizia", Raul Seixas
terça-feira, março 07, 2006
Caminhos de um Eremita - Parte III
Assinar:
Postagens (Atom)