sexta-feira, setembro 29, 2006

I can't tell you why.

Look at us baby, up all night
Tearing our love apart
Aren't we the same two people who live
Through years in the dark?
Ahh...
Every time I try to walk away
Something makes me turn around and stay
And I can't tell you why

When we get crazy,
It just ain't to right,
(Try to keep you head, little girl)
Gir, I get lonely, too
You don't have to worry
Just hold on tight
(Don't get caught in your little world)
'Cause I love you
Nothing's wrong as far as I can see
We make it harder than it has to be

And I can't tell you why
I can't tell you why
No, no, baby, I can't tell you why
I can't tell you why
I can't tell you why


Leia ouvindo | Eagles |

terça-feira, setembro 12, 2006

Sussurros da noite.

Por esses dias um grilo tem visitado os “Alpes da Brasilândia” onde resido. Passa a noite a “cricrilar” em frente à minha janela. Incansavelmente. Por incrível que pareça, os renitentes “cri-cris” não me incomodam, pelo contrário. Levam-me de volta à minha infância querida, encalacrada em algum canto escuro e distante da minha memória.

Diferente de muitas pessoas, não vou contar histórias incríveis de uma criança cheia de vida. Aliás, não vou contar história alguma. Vou escrever sobre a minha percepção de mundo, muito diferente das outras crianças.

Nunca fui convencional. Sempre atentei para coisas que ninguém, até seus seis anos de idade, prestava atenção. No vento soprando as nuvens e os resquícios de lua pela manhã, o movimento demorado do Sol pela janela deixando o canto da minha cama, o cheiro da chuva e o céu confuso entre tons cinzentos e o azuis. Claro que gostava de brincar, mas era isso que me fascinava. Ficava parado, observando com paciência, percebendo o momento segundo a segundo e, às vezes era isso o que durava. Poucos segundos.

Lembro de uma janela rachada no quarto de minha avó.A fissura atravessava o vidro na diagonal, fazendo uma curva que começava quase reta e terminava íngreme. Gostava de ficar olhando para ela e imaginando que era parte do desenho de uma montanha bem verde e que eu desceria de carro um dia. Até cortei-me certa vez quando resolvi fingir que o carro era meu dedo. Com três anos de idade, ainda temia o sangue. Não senti a dor do ferimento, no entanto chorei ao ver o vermelho vivo.

Recordo quando viajava com meus pais para colônias de férias na praia. A sensação de estar em um lugar novo, ainda que sempre fosse o mesmo. Pessoas novas, amigos novos, as brincadeiras, tentar ver os filmes que exibiam a noite e que crianças não podiam ver, tentar pescar girinos pensando que eram peixes pretos, a grama da noite molhada pelo sereno, o ar úmido de praia, a areia entrando no tênis, o xixi escondido no mato e o som dos grilos.

Uma lembrança muito marcante era o som dos grilos anunciando a chegada da noite. Dezenas deles, fazendo aquele “cri-cri”, me hipnotizando, dizendo: “Olha, a noite chegou, você já viu a lua?”. Adorava ir para algum canto, solitário, ouvir os grilos, ver a lua e sentir o cheiro do mato. Desligava do mundo nessas horas. Pensava sobre tudo enquanto escutava aqueles sons que me encantavam e que eu nunca sabia de onde vinham ao certo. De alguma forma, sabia que um dia isso ia mudar, então, sentia o peito apertado, com saudade de uma história que havia apenas começado.

Saudade que hoje é real. Um encanto que a vida adulta me tomou, prazeres que hoje, não são mais tão simples. Lembranças doces e distantes que um grilo perdido na cidade trouxe de volta. Um abraço quente que não sentia há tempos, de mim mesmo vinte anos mais novo. Outra vez, ao deitar na cama, vou dizer: “Boa noite, meu amigo.”. Espero ouvir sua resposta mais uma vez. “Cri! Cri! Cri!...”

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