quinta-feira, julho 13, 2006

Brisa despedaçada.

Um homem sai de seu escritório depois de enfrentar 12 horas de trabalho. Seu corpo cansado quer apenas encontrar repouso em uma cama macia e a boa comida que seu lar oferece. Em meio a folhas e pastas, joga seus pertences na bolsa com pressa.

O celular toca, amigos o convidam para beber. Ele pensa em descansar, mas, a vontade de extravasar o peso das responsabilidades é mais forte. O sabor amargo e borbulhante de uma boa cerveja gelada regado a gargalhadas e ar fresco podem curar temporariamente suas dores até a próxima manhã.

Convite aceito, bolsa no carro, vidros abertos, boa música, a lua gentilmente brilhante e vontade à tona. Os ingredientes misturam-se e formam a perfeita combinação para a noite ser agradável.

No caminho pensa todos os assuntos do dia. Alguns deliciosos, outros um pouco mais preocupantes, breves revoltas sobre o trabalho. Ele não se deixa abater e segue firme, sem pensar que em poucas horas enfrentaria tudo novamente.

Estaciona o carro e combina o valor com o rapaz que promete cuidar do veículo. Chegando, vê-se livre ao sentir a mesa de bar, as bolachas de apoio, os copos tornando-se cheios e sendo selados com espuma branca e cremosa, o suor no vidro redondo, os goles gelados, a mão molhada na umidade da garrafa, os sorrisos. Sempre amou o gosto da liberdade, da vida simples e despreocupada.

Durante sua viagem interior, percebe certa movimentação. Pessoas levantam-se de suas mesas, algumas ligam os celulares, outras arregalam os olhos. Lentamente vira-se. Repara um clarão no meio da rua, próximo onde está sentado. Seus olhos cansados não conseguem focar o que está acontecendo exatamente. Força os olhos e escuta: “Está pegando fogo!!”. “O quê?”, pergunta curioso. “O ônibus!!”. Desconfiado, resolve levantar e averiguar o alarme. Só então consegue identificar as luzes. Fogo, labaredas lambiam o coletivo com voracidade. Pedaços de vidro pelo chão e outras partes que somente brilhavam em chamas. Medo e tensão passaram a tomar conta do ambiente. Até a brisa leve e suave transformou-se em um vento frio.

Ele reage apenas com a mente, revoltando-se por mais um ato de vandalismo coordenado. Os sabores dissiparam-se e deram lugar ao gosto amargo das sirenes. Ele observa um helicóptero esbaforido, provavelmente de alguma emissora de televisão. As pessoas correm, algumas riem desprezando a situação. Garçons fecham as mesas e avisam: “Pessoal, vamos ter que fechar o bar por motivos de segurança!”.

Fim de noite. A frustração trás consigo todas as sensações desagradáveis que tentou esquecer. Volta a pensar na cama macia e segura. Pensa e teme ter seu direito a um mínimo de qualidade de vida deflorado.Ele não quer mais temer. Ele não quer mais revoltar-se. Ele quer paz, justiça e consciência, mas, lutar sozinho, é pesado.

“Melhor voltar pra casa”.

Leia ouvindo | "Mi Vida", Manu Chao |

quarta-feira, julho 05, 2006

Independentes e urbanos.


Neste 4 de julho, dia da independência americana (malditos ianques), tenho o prazer de dizer que chegou ao Brasil, mais especificamente em São Paulo, a “filial” do blog americano Gothamist. Por iniciativa de um grupo de independente de jovens jornalistas, o Sampaist foi criado para noticiar a vida paulistana em seu mais amplo sentido: música, bares, arte, cultura, curiosidades, pontos turísticos e mais outros atributos da cidade mais movimentada do país. Sua equipe é muito talentosa e dedicada, o que pode ser notado em uma leitura leve, agradável e bem instrutiva. Também usam fotos características da cidade ilustrando as matérias.

Interessante é que o leitor também pode interagir com o conteúdo, não só comentando, mas enviando material. Sim, eles aceitam sugestões de textos! Claro, se estiver dentro do tema “São Paulo”, por isso nem adianta mandar um post lamentando sua vida miserável, vamos ter um pouco de bom senso.

O Sampaist é um prato cheio para quem ama São Paulo, perfeito para os urbanóides de plantão. Mesmo para quem não gosta tanto de florestas de pedra, vale muito a pena dar uma passadinha por lá e conhecer um pouco da parte bela de nossa cidade ou simplesmente informar-se sobre o que acontece no decorrer do dia.

Esse Camarada já é fã!


Leia ouvindo | "Nem vem que não tem", Wilson Simonal |