sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Olhos de criança.

Eu pensava que a inocência tinha morrido nos anos 80. Hoje deparei-me com uma situação simples, pura e curiosa. É até estranho falar disso. De fato, senti uma ponta de inveja pela minha pureza perdida, mas, ainda sim, inspirei a brisa doce do momento.

Aconteceu que um amigo recebeu um e-mail, um tipo de corrente monetária que prometia lucro certo. O sistema era o seguinte: você recebe o e-mail com 6 nomes e 6 números de contas bancárias, então 1,00 real deveria ser depositado em cada uma delas. Aí, é só repassar para o maior grupo de pessoas possível. Dessa vez, no fim do texto não dizia que se a mensagem não fosse enviada em 10 segundos, 6 membros de sua família teriam um enfarte do miocárdio, pelo contrário, ela trazia um cálculo. Se 3% das centenas de pessoas depositassem a quantia estipulada, poderíamos receber milhares de reais. Não lembro agora como eram as contas, mas era uma idéia muito interessante.

Bom, como sempre, eu desconfiei da empreitada. Disse ser arriscado, e que nunca ninguém havia ouvido falar nisso e, sendo assim, como poderia ser algo sério. Meu amigo não se abalou com minhas palavras de descrença e disse “Eu estou apostando. E se outros também apostarem?”. Fiquei sem argumentos. Como poderíamos saber? E se realmente der certo? Olhei seus olhos cheios de fé e não pude deixar de perceber um brilho esperançoso no fundo de sua alma. Nunca o vi assim. Era uma pessoa tranqüila mas, enrijecida pelas necessidades de sua família durante o período de faculdade e, agora, por suas obrigações de pai e marido.

Na verdade, não cheguei a ler o tal e-mail, mas, ele falou com tanta fé que acabei sendo envolvido por aquela atmosfera de “querer acreditar”. Fui levado por uma estranha força a acompanhá-lo na jornada até as agências bancárias. Penso que nem ele mesmo sentiu a energia que envolveu aquele momento. Um misto de paz e tranqüilidade, como se voltasse a ser criança e acreditasse que os sonhos se realizavam e que as bruxas tinham narizes pontudos com uma berruga na ponta. É difícil descrever o que senti na hora, mas, seria muito bom se todos se sentissem assim mais vezes. Acho que o mundo seria mais humano e, a vida, menos sofrida.

Fiquei sem assunto, engasgado pela intensidade do momento durante aqueles poucos minutos que me faziam sentir forte, novamente. Lembrei de quando era criança e parecia saber de algo que ninguém mais conhecia. Aquele segredo que nos faz sermos felizes e que esquecemos quando ficamos adultos. Não sei se foi assim com todos, mas, comigo foi.

Ao chegar na empresa, continuei duvidando da veracidade da aposta, mas, mesmo assim, torço para que dê certo. Quem sabe eu não volto a acreditar na boa fé e na esperança? Só o tempo dirá

Leia ouvindo | "Le Usuahia A La Quiaca", trilha de Diários de Motocicleta |

Um comentário:

Fe Fontes disse...

profundo...

...isso pq nem ouvi a trilha sugerida...

beijo, porco